sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Mestiçagem e racismo: articulações estratégicas do Atlântico Negro Tropical

Jesiel Ferreira de Oliveira Filho

Na tese de doutoramento que estou finalizando – “Raça” e poder em textos e contextos luso-angolo-brasileiros: articulações estratégicas – desenvolvo uma abordagem interdisciplinar que discute as relações entre racismo e alienação em sociedades lusófonas. O mapeamento polifônico de representações culturalistas e literárias das heranças psicossociais do colonialismo nos imaginários angolano, brasileiro e português mostra que as noções ambivalentes de “raça” sedimentadas pela mestiçagem foram apropriadas pelo patriarcalismo tropical como dinamizadores simbólicos de um dispositivo biopolítico que ainda hoje desempenha funções básicas na regulação das diferenças sociais. Semi-transparentizado entre a pluralidade de corpos e linguagens lusófonas, o peso dos signos e enunciações raciais deforma agentes e discursos através de uma rede capilarizada de relações interpessoais cujo funcionamento intersticial permite a ativação de regimes discriminadores em paralelo às regras da “democracia racial”, enquadrando dissimuladamente características físicas e culturais dos sujeitos de acordo com os modelos de supremacia européia fixados pelo poder (neo)colonial. Operando como um “nominalismo dinâmico” (GILROY), os significantes da “raça” configuram assim um aparelho de repressão e exploração manobrado estrategicamente através das pedagogias da morenidade. Pretendo discutir alguns efeitos semióticos e políticos desse mecanismo de dominação através da triangulação de imagens literárias correspondentes ao que denomino de ideologema (JAMESON) da antropofagia senhorial.

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