sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A mão que prepara o alimento não é a mão que redige o documento

Nilzete da Silva Rocha

Os livros de receitas fazem parte de uma tradição discursiva bastante antiga. Segundo Strong (2004), desde muito cedo, a troca de receitas fez parte dos hábitos da vida em sociedade. As receitas culinárias, que foram a princípio transmitidas informalmente, através das gerações, fazendo parte da herança familiar, ou compartilhadas por interesses afins, foram compiladas em livros manuscritos – como o atesta, por exemplo, o Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria I – e, com o advento da imprensa, tornaram-se um filão editorial. Os autores dos primeiros livros impressos de receitas eram, em realidade, compiladores das receitas de antigos livros que já existiam em manuscrito. O objetivo deste trabalho é apresentar os dados recolhidos do livro Arte de cozinha, manual de receitas, do século XVII, de Domingos Rodrigues, que confirmam a sua caracterização como compilador, contrariando a informação de que a maior parte das receitas ali contidas foi, por ele, inventada graças à sua habilidade. Pretende-se com esse estudo separar as distintas estruturas lingüísticas existentes nesse manual de cozinha, bem como observar o comportamento da sintaxe dos clíticos em cada uma dessas estruturas.

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