sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Mimese e criação em Orlan

Anna Amélia de Faria

A arte ocidental como representação do real, numa perspectiva aristotélica, foi ganhando autonomia ao longo dos tempos. As produções artísticas deixaram de estar exclusivamente pré-determinadas a serem suporte fiel dos fenômenos consensualmente perceptivos. Na história da representação, o labor artístico passou, segundo Foucault, a despregar-se dessa correlação, iniciada na antiguidade. A compreensão das coisas, utilizando a noção de similitude, que via o mundo como um imenso espelho, deixará de ser o operador de entendimento; com isso, ficção e arbitrariedade ganharão espaço, e as criações configurar-se-ão enquanto um poderoso elemento questionador da realidade, vista como condição determinada por agenciamentos históricos devidamente hierarquizados. Pretendo, nesta exposição, manter-me na pista dos estudos foucaultianos que desmontam os arranjos pretensamente inatos, e considerar os ícones de beleza, as possibilidades do corpo e as naturalizações da imagem da mulher, como elementos expostos e postos em questão através dos trabalhos performáticos da artista francesa Orlan, que utiliza o próprio corpo, dialogando com movimentos artísticos e feministas, desde os anos sessenta. Assim, ela contribui para mostrar que o belo, o padrão físico e as possibilidades do corpo são mais plásticos e porosos do que, costumeiramente, imaginamos.

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