sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A regência variável dos verbos de movimento no português popular do interior da Bahia

Telma Souza Bispo Assis

Este projeto de mestrado, desenvolvido no âmbito do Projeto Vertentes, tem como objetivo analisar a variação na regência dos verbos de movimento na fala popular de dois municípios do interior da Bahia, a fim de estabelecer os fatores sociolingüísticos que determinam o fenômeno. O corpus de fala vernácula é constituído por 48 entrevistas realizadas nos municípios de Poções e Santo Antônio de Jesus, segundo a metodologia da Sociolingüística Variacionista. De acordo com Mollica (1996), Ribeiro (2000) e Vallo (2004), a regência variável do verbo de movimento ir não acontece de forma aleatória, o que possibilita identificar a influência dos fatores lingüísticos que motivam a escolha do falante quanto ao uso da preposição, uma vez que a gramática tradicional preconiza o uso da preposição a, ou mesmo para, em detrimento da preposição em. Ademais, serão analisados também os fatores sociais que atuam sobre esse fenômeno variável, identificando potenciais processos de mudança em progresso ou processo de variação estável nos padrões lingüísticos das comunidades estudadas.

O uso do modo imperativo no português rural do estado da Bahia

Lanuza Lima Santos

Este trabalho consiste em um estudo empírico sobre a realização do modo imperativo no português popular de dois municípios do interior do estado da Bahia: Santo Antônio de Jesus, no recôncavo baiano, e Poções, no semi-árido. Pautado nos princípios teóricos metodológicos da sociolingüística variacionista, o estudo visa sistematizar os condicionamentos sociais e estruturais do fenômeno em foco. Busca-se, ainda, verificar a relevância da hipótese da transmissão lingüística irregular na configuração do português popular do Brasil. Para tanto os resultados foram confrontados com os observados em estudo da mesma variável em comunidades rurais afro-brasileiras isoladas. A amostra em análise é constituída de 24 inquéritos das comunidades rurais de Santo Antonio e Poções. Os inquéritos se subdividem de acordo com a zona. Assim, para cada comunidade de fala, temos 12 inquéritos da sede e 12 da zona rural. Os resultados apontaram o predomínio das formas do indicativo com 70% do total de 406 ocorrências, e freqüência de 30% para a forma do subjuntivo, percentual superior ao encontrado no português afro-brasileiro. A análise dos resultados revelou a possível influência da transmissão lingüística irregular desencadeada pelo contato entre línguas na configuração desta variável.

Uma tentativa de constatação da identidade lingüística do crioulo guianense de Caiena : crioulo típico ou variedade do francês standard?

Valérie de Castro Machat

Forjado a partir do contato entre os colonizadores franceses e os escravos importados da África, o crioulo guianense representou uma saída à grande diversidade lingüística decorrente das múltiplas etnias africanas bem como à necessidade de comunicação. Tendo como língua alvo inicialmente o francês do século XVII, falado por colonos e plantadores, e como substratos as línguas maternas dos escravos negros, o crioulo guianense foi sendo desenvolvido e progressivamente enriquecido com aportes das línguas ameríndias dos povos autóctones, de outras línguas européias trazidas através das sucessivas tentativas de colonização e, a partir do final do século XIX, das inúmeras imigrações. Atualmente, identificam-se três variedades regionais do crioulo guianense: a da área do rio Maroni, no oeste, influenciado pelo crioulo francês das Pequenas Antilhas; a da área do rio Oiapoque no leste, inspirado no português; e a de Caiena, de base francesa, com o maior número de falantes na Guiana Francesa. A presente pesquisa tem como objetivo tentar descrever o crioulo guianense de Caiena e tentar definir sua identidade lingüística: crioulo típico ou variedade lingüística do francês standard?

Notícia sobre a história da diversidade cultural e lingüística na România Nova e os Crioulos na Guiana Francesa

Daniela Moraes de Jesus

As expansões marítimas das nações do Velho Continente criaram uma nova situação cultural e lingüística: as regiões colonizadas pelos países de língua românicas são denominadas como România Nova. Essas expansões iniciaram-se, na África, a partir do século XV. A América foi colonizada no final do mesmo século. A colonização francesa na Guiana iniciou-se com a vinda de alguns colonos em 1504, encontrando os povos ameríndios habitantes daquele local. Durante todo o período colonial foram enviados para a Guiana, expedições de colonos franceses na tentativa de povoar este território. Com o plantio da cana-de-açúcar, a França utilizou-se do trabalho escravo e, como conseqüência, a população escrava ultrapassou em muito a população européia. A Guiana Francesa recebeu no decorrer da sua história outras populações, tais como hindus, canadenses, brasileiros, haitianos, martinicanos, guadalupenses etc. A presença dessas culturas e línguas na Guiana Francesa proporcionou a formação do complexo quadro etnolingüístico desse Departamento francês, onde convivem os crioulos guianense, martinicano, guadalupense e haitiano (línguas maternas) com o francês (língua oficial). O objetivo dessa comunicação é retratar o multiculturalismo e o multilingüismo na Guiana Francesa e tecer considerações gerais sobre algumas semelhanças e diferenças entre os crioulos de base francesa presentes na Guiana Francesa.

Você precisa ler Isto: a coleção plenos pecados e as estratégias do mercado literário

Virgínia Paschoal dos Santos

O projeto de pesquisa desenvolvido no Mestrado tem como objetivo discutir o atual fenômeno dos lançamentos literários apoiados por estratégias de marketing, com tiragens nunca vistas antes. Essas estratégias são possíveis porque a sociedade se fragmentou em faixas de mercado, criando produtos culturais para todo tipo de consumo. O público passa a ser considerado, então, como um elemento extremamente importante, capaz de relativizar as outras esferas que participam da construção do valor literário. Hoje, com um mercado cultural consolidado, torna-se necessário analisar como a área de Letras vem se comportando frente a esse fenômeno, assim como se demanda a verificação das transformações que acontecem com as demais instâncias envolvidas - o autor e o público. O trabalho a ser apresentado tem como objetivo apresentar algumas considerações que se encaminham no sentido de responder às seguintes questões: como se reconfigura a crítica nesse cenário? Qual é a visão dos autores e o seu comportamento diante das exigências do marketing, dos sucessos e insucessos nas vendas? Para responder a essas perguntas, a pesquisa toma como ponto de partida a coleção Plenos Pecados, que constitui um marco no mercado editorial brasileiro, pela tiragem alcançada.

A construção da vida pública de intelectuais negros: Abdias Nascimento e Milton Santos

Rosemere Ferre Ira da Silva

O trabalho de pesquisa, “A construção da vida pública de intelectuais negros: Abdias Nascimento e Milton Santos”, pretende discutir as funções do intelectual na sociedade contemporânea e a representação do intelectual negro frente aos dilemas e entraves que se estabelecem diante de intervenções políticas e sociais propostas por estes mesmos intelectuais, na maioria das vezes, para criar condições de participação de afro-descendentes na dinâmica das relações, que envolvem uma compreensão do negro como sujeito de suas ações e legitimador de um processo histórico de investigações descontínuas, em relação a relevância da afro-descendência, para uma sociedade tão complexa, na sua formação étnico-racial, como a brasileira. Neste trabalho, levarei em conta o debate sobre o significado da vida pública do intelectual negro tomado como uma articulação política, formado a partir de estratégias que colocam em evidência as relações de poder no meio de atuação destes intelectuais. Embora estas trajetórias pareçam distintas muito interessa a esta pesquisa mostrar como as relações étnico-raciais movimentam uma construção de intelectualidade negra, que diferente da não-negra, está voltada para um trabalho de questionamento e ênfase a uma produção de saber e conhecimento mais esclarecedora sob o ponto de vista do exercício social/ político da cidadania na contemporaneidade.

Representações culturais em A Grande Fala do Índio Guarani

Priscylla A. Campos

Neste trabalho, que amplia o repertório de escritores estudados pelo Grupo de Pesquisa O escritor e seus múltiplos: migrações, toma-se como objeto de estudo a obra poética de Affonso Romano de Sant’Anna, A grande fala do índio Guarani, a fim de investigar como se dá o trânsito de vozes que permeiam seu texto poético: seja do intelectual frente a um regime repressor, do crítico, ensaísta, jornalista ou ainda, professor acadêmico. Partindo da própria constituição do poema, observa-se o posicionamento do intelectual Affonso Romano de Sant’Anna e como essas diferentes vozes são articuladas dentro da sua poesia. Analisando o contexto político, a abordagem histórica e genealógica do índio brasileiro e do latino americano, pode-se repensar o Brasil, seu povo, suas representações culturais. Assim, amplia-se o foco da pesquisa na obra de Affonso Romano de Sant’Anna, que oferece, em A grande fala do índio Guarani, mais uma interpretação sobre o seu país.

Brasilidades: políticas culturais na intervenção do compositor e ministro Gilberto Gil

Andréa Coutinho Cavalcante

O projeto “Etnicidades: entre a cidade letrada e a rua” tem como objeto de pesquisa as representações e reconfigurações identitárias, focalizando a articulação entre problemática étnica e reconstrução imaginária do espaço urbano da cidade do Salvador. Nesse projeto, insere-se o meu estudo das repercussões do imaginário da mestiçagem na intervenção político-cultural do músico e ministro Gilberto Passos Gil Moreira, realizado a partir de leituras sobre o artista e sua obra, sobre música popular e o tropicalismo e, ainda, da fundamentação teórica e histórico-cultural geral da investigação. A partir do mapeamento dos discursos do músico e ministro ao longo dos dois últimos anos do primeiro mandato do Governo Lula, bem como das reportagens e entrevistas concedidas durante o mesmo período, a comunicação apresentará, dando continuidade ao exame da dimensão de suas intervenções no cenário político-cultural, o resultado da última fase da pesquisa: a análise da compreensão de “cultura brasileira” que resulta da atuação de Gilberto Gil como ministro, estabelecendo comparação com medidas empreendidas pelos governos anteriores no setor da cultura.

Processos de simplificação no desvio fonológico

Ymna de Oliveira Costa Valenzuela

Este trabalho apresenta os processos de simplificação no sistema fonológico com desvio. O objetivo principal e expor a contagem da ocorrência de tais processos. O corpus é constituído por dados de fala de 4 sujeitos. Para a investigação, foi utilizado o instrumento e procedimento eliciativo e analítico do Exame Fonético-Fonológico (ERT). Os resultados focalizarão os processos mais recorrentes na fala dos indivíduos investigados.

Estrutura silábica e aquisição da leitura: algumas reflexões

Cláudia Martins Moreira

Tomando como base os dados coletados no ano de 2006, com 20 crianças de escolas públicas da cidade de Salvador, pretendo, com este trabalho, fornecer uma nova classificação dos estágios de escrita, à luz da Fonologia Aplicada (ABAURRE, 1998, 1999; CAGLIARI, 1992a, 1992b, 1998) e dos estudos de aquisição da linguagem que evidenciam o papel do molde silábico no processo aquisicional (MC NEILAGE & DAVIS, 1990; TEIXEIRA, 2003). Os resultados permitem-nos a conclusão de que o percurso da aquisição da escrita está continuamente perpassado pela oralidade, em graus e motivações variadas. Tal evidência nos permite reafirmar o caráter gradativo das aquisições, embora se observem episódios regressivos ou progressivos, reais ou aparentes, ao longo do processo de aquisição da escrita na criança.

Palatalização das consoantes oclusivas dento-alveolares em inquéritos do projeto Atlas Lingüístico do Brasil.

Milena Pereira de Souza

Este trabalho analisa um dos aspectos existentes no português brasileiro — a palatalização das oclusivas dento-alveolares /t, d/ diante da vogal alta /i/. Utilizaram-se como corpus três tipos de questionário do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (Projeto ALiB) — o questionário fonético-fonológico, o semântico-lexical e os temas para discursos semidirigidos. O Projeto ALiB é um projeto de extensão nacional que visa a observar e descrever a realidade lingüística do Brasil. Os questionários aplicados em cinco capitais — Salvador, Recife, Maceió, Aracaju e Teresina — tiveram como informantes homens e mulheres, com características que corresponderam à metodologia do Projeto ALiB. A análise foi condicionada a fatores lingüísticos, geolingüísticos e sociolingüísticos relevantes para o trabalho. Os resultados obtidos nos indicam o uso da variante palatal categórico em Salvador e predominante em Teresina. Nas demais capitais, as duas variantes convivem, com predominância da dental principalmente em Maceió. A variante palatal, de um modo geral, predomina na fala dos informantes de nível universitário e das mulheres mais jovens. Do ponto de vista estritamente lingüístico, destacam-se, como fatores favorecedores, o não vozeamento da consoante (mentira, capoti) e a presença de vogal palatal alta na sílaba anterior, como conjuntiviti e liquidificador.

A ditongação na fala soteropolitana: uma análise parcial

Lucinda Conceição da Hora

Este trabalho visa a analisar o fenômeno da ditongação em sílabas não travadas pelo arquifonema /S/, em falantes da cidade de Salvador, documentados para a constituição do corpus do Projeto ALiB. Os dados foram codificados pelo pacote de programas VARBRUL e analisados de acordo com os pressupostos teóricos da Sociolingüística variacionista. Foram observados 24 inquéritos, constituindo uma mostra com 7.897 ocorrências. Na análise, os dados indicaram um alto índice de ditongação nas sílabas menos complexas, principalmente quando são formadas apenas pela vogal e se encontram na posição inicial do vocábulo. Notou-se também a grande influência para a aplicação do fenômeno quando a vogal analisada apresenta a natureza nasal. Analisando os fatores e considerando as vogais analisadas separadamente de acordo com a natureza destas, os resultados não apontaram diferença em relação à seleção dos fatores lingüísticos, porém, para os ditongos formados com a vogal média anterior fechada, o fator social grau de escolaridade se mostrou relevante. Observou-se ainda que, para essas vogais, o aparecimento dos glides é bastante raro quando a consoante da sílaba adjacente apresenta o traço palatal. Ainda com esses resultados, pôde-se observar que o fato em análise não apresenta um alto grau de aplicabilidade.

El traductor Lazarillo x El Lazarillo traductor

Maria Auxiliadora de Jesus Ferreira

No ano de 1554, surgem simultaneamente três edições desta que é considerada como uma das maiores e mais importantes criações artísticas das letras espanholas: La vida de Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidades. O livro teria rapidamente se tornado muito popular, sendo reimpresso muitas outras vezes. Tamanha popularidade fez com que também fosse traduzido para outros idiomas, entre eles, o francês, o italiano e o inglês. A partir de então o vocábulo lazarillo deixaria as páginas dos livros e passaria a fazer parte dos dicionários de nomes comuns, trazendo entre outras, as seguintes acepções: pessoa que guia e conduz um cego; pessoa que guia ou acompanha outra que necessita de ajuda. Este tipo de romance inauguraria o gênero picaresco, no qual o personagem principal, o pícaro, é um sujeito à margem da sociedade, pobre, e que para sobreviver usa de várias artimanhas. Este trabalho buscará construir a associação entre os termos lazarillo e o tradutor de textos, além da diferença de sentido que adquirem, quando colocados em ordem inversa na frase. Para isso, a obra será contextualizada e a tarefa desempenhada pelo tradutor acrescida da recepção do seu trabalho pelos críticos da área será discutida.

Recursos fonoestéticos na construção de dois poemas de Arthur de Salles

Laurete Lima de Guimarães

Poeta baiano nas estéticas parnasiana, simbolista e pré-modernista, Arthur de Salles, escreveu em prosa e poesia. Possuía grande habilidade no manejo da língua como expressão do jogo rítmico das palavras. Buscava de maneira elaborada representar a variedade de sons e ritmos identificados nos mais diversos ambientes pelos quais transitava pelo Recôncavo Baiano. A procura pela palavra cuja acentuação métrica fosse adequada, pelo número de sílabas tônicas e átonas que causassem o efeito desejado, pela presença de vogais abertas ou fechadas, bem como de consoantes que produzissem o ruído esperado. Esse recurso lingüístico e poético, concomitantemente, não foi de maneira aleatória utilizada por Salles. Nosso objetivo foi identificar através do manejo apurado e harmonioso empregado pelo autor ao combinar as sílabas tônicas e átonas, vogais abertas e fechadas, rimas, aliterações, proceder à identificação dos recursos fonoestéticos aplicados para a realização da cadência rítmica presente em Sub Umbra e O Sino da Casa da Câmara. A metodologia aplicada foi, inicialmente, o estudo comparativo entre os dois poemas nitidamente simbolistas, seguido da realização de levantamento e cotejamento dos recursos lingüísticos utilizados. Como resultado, identificamos os recursos fonoestilisticos manipulados pelo autor na construção de seu discurso poético.

A cultura e a identidade no processo de revitalização do parque São Bartolomeu

Jocevaldo Lopes Santiago

O trabalho é parte integrante do projeto Memória, diversidade e gestão social, que desenvolve pesquisa e ações sócio-educacionais no subúrbio ferroviário de Salvador, no em torno do Parque São Bartolomeu. Esta área de proteção ambiental possui grande significado histórico, pois foi palco de eventos marcantes do passado: a Batalha de Pirajá; a ocupação do primeiro aldeamento indígena, além de ter sido local de abrigo de diversos quilombos. O trabalho em curso é uma pesquisa-ação nas comunidades em torno do Parque e tem como referência a memória histórica da ancestralidade dos povos indígenas e africanos, bem como a recente história dos movimentos sociais em defesa do Parque. Após levantamento bibliográfico de obras produzidas sobre o Parque São Bartolomeu, estamos mantendo contato com moradores antigos e com representantes das organizações que ali residem e atuam. Faremos oficinas de leitura e produção de cordel e rap, levando em consideração os subtemas: ancestralidade, ecossistema, tradição oral, educação e diversidade, todos relacionados à história local. Pretende-se ao final da pesquisa reafirmar a importância do Parque para a comunidade, na construção das identidades coletivas e individuais, e também a força persistente da memória histórica, conseqüência, sobretudo, da tradição oral.

A filosofia de cuidado de si X o saber de si nos séculos I e II da era cristã

Andréa Beatriz Hack


O presente trabalho constitui-se de um breve substrato do capítulo inicial de minha tese de Doutorado, intitulada “O mito cristão na Literatura”, que busca analisar as diferentes imagens de Jesus dadas pelos autores José Saramago, Fernando Sabino e Herberto Sales na ficção. As obras em questão são, respectivamente, O evangelho segundo Jesus Cristo, Com a graça de Deus e História Natural de Jesus de Nazaré: uma narrativa cristã. A partir dos estudos de Michel Foucault, esta comunicação traz uma análise comparativa entre as formas de concepção da subjetividade dentro da filosofia greco-romana nos séculos I e II da Era Cristã. A mesma pregava a importância do cuidado de si, e utilizava elaboradas tecnologias, as quais eram ensinadas por um mestre ao seu(s) discípulo(s), no contexto de uma relação bastante próxima entre eles. Com o surgimento do Cristianismo, a ênfase passou do “cuidado de si” para o “saber de si”, mediante a introdução de novas técnicas de vigilância, entre elas a confissão e o castigo. O objetivo era conter o pecado e o mal, que provocam a separação entre o indivíduo e a transcendência, o divino perfeito – Deus.

Orientadora: Prof. Dra. Evelina Hoisel
Doutorado

Reconfigurações do mito da acadianidade

Aline Cristina de Assis Campos

O presente trabalho pretende analisar as questões de contrução e afirmação da identidade coletiva acadiana no espaço canadense contemporâneo. Enquanto minoria francófona no espaço canadense de maioria anglófona, os acadianos se vêem frequentemente confrontados ao desafio do seu reconhecimento. Embora não possuam território político ou jurídico próprio, eles comprovam que um povo pode sobreviver sem necessariamente constituir um Estado. Para tanto, se dotaram de símbolos e instrumentos de promoção social que atestam a sua vitalidade. No entanto, a recordação do trágico na história acadiana, a saber, a Deportação dos Acadianos no ano de 1755, continua a ser o traço forte da acadianidade.

Edição diplomática e estudo filológico e paleográfico do Dietário das vidas e mortes dos monges do Mosteiro de São Bento da Bahia

Gérsica Alves Sanches

Edição diplomática dos scriptores 4 e 5 do Dietário do Mosteiro de São Bento da Bahia, projeto que se alicerça nos estudos filológicos e paleográficos, promoveu, por meio de critérios conservadores de edição, a transcrição diplomática do documento manuscrito, o Dietário do Mosteiro São Bento da Bahia. Almeja-se verificar características intrínsecas do documento, suas particularidades lingüísticas; a exemplo da grafia; das variações lexicais; das abreviaturas; do campo semântico; as qualidades distintivas de cada scriptor; tipo de suporte, enfim os componentes que engendram esta obra. Pretende-se, também, efetuar uma análise dos elementos extrínsecos, haja vista que não se deve dissociar um texto do seu contexto histórico-cultural, o que se faz precípuo, principalmente, nesse trabalho. Ao mesmo tempo, intenciona-se fazer uma análise do discurso religioso; do seu vocabulário, mais especificamente, do emprego de determinados adjetivos que são utilizados com a finalidade de enaltecer a figura monástica. Dessa maneira, cabe salientar a importância desse estudo no que diz respeito a sua ampla contribuição para a Lingüística Histórica, ao disponibilizar dados que permitem o acesso a um discurso lingüístico do período; e para a História, por possibilitar o contato com um discurso tão abrangente, que nesse texto revela o cotidiano da instituição religiosa, tendo um valor incomensurável por descortinar um período histórico que se inicia em 1582 e encerra-se, provavelmente, em 1815.

Estudo paleográfico dos scriptores 1, 2 e 3 do Dietário do Mosteiro de São Bento da Bahia

Anna Paula Sandes de Oliveira

A partir do projeto de edição conservadora do Dietario das vidas e mortes dos monges, q' falecerão neste Mosteiro de S. Sebastião da Bahia – livro que relata a história dos monges que viveram no Mosteiro de São Bento da Bahia desde sua fundação em 1582 até 1815, que ora se realiza no Centro de Pesquisa e Documentação do Livro Raro, da Biblioteca do Mosteiro de São Bento da Bahia, busca-se fazer uma comunicação sobre o andamento do trabalho concernente à Edição diplomática dos scriptores 1, 2 e 3 do Dietário do Mosteiro de São Bento da Bahia. Como se objetiva uma descrição conservadora, foram estabelecidos critérios para informar aos interessados o estado real do manuscrito a fim de ser o mais fiel possível ao original. O trabalho de transcrição já foi realizado, conservando-se o mesmo número de linhas por fólio bem como as alterações posteriores os comentários feitos à margem da mancha escrita pelo monge Dom Clemente Da Silva Nigra, OSB. Está em curso o levantamento e desdobramento das abreviaturas encontradas no manuscrito Pretende-se fazer ainda uma caracterização da escrita dos scriptores 1, 2 e 3 uma vez que há pelo menos cinco scriptores diferentes no documento. Assim, a edição atingirá seu objetivo de oferecer dados lingüísticos fiéis e completos aos especialistas.

Tradição filológica, novas tecnologias e os modelos de edição de textos: um estudo comparativo

Luís H. A. Gomes

A comunicação pretende abordar os modelos de edição de textos manuscritos ou impressos por meio de novas tecnologias, comparando com os estudos filológicos tradicionais no Brasil que não se valem de técnicas modernas para o desenvolvimento de edição de textos, desenvolvidos em inícios do século XX. Ainda há, em torno da comunidade acadêmica, certo preconceito em relação às edições eletrônicas de textos que, supostamente, substituiriam o trabalho do filólogo no processo de editoração de textos. Assim, o trabalho se propõe a responder a seguinte pergunta: o filólogo à moda antiga desapareceu?

Edições e suportes: a vida e feitos de Júlio César do papel ao digital

Hirão Fernandes Cunha e Souza

Levando-se em conta as dificuldades de acesso, encontradas por pesquisadores, quer historiadores, quer lingüistas, a textos muito recuados na história da língua, cujos originais são normalmente guardados a “tantas chaves”, fomenta-se cada vez mais a necessidade de trasmutação dos textos filológicos para suportes que os tornem mais disponíveis para as gerações futuras. O presente trabalho visa, fundamentalmente, noticiar a trajetória das edições textuais, desde o pergaminho às imagens digitais, e as diversas soluções encontradas pelos filólogos na edição de textos antigos, tomando como base e exemplo a edição crítica de autoria de Maria Helena Mira Mateus, da obra Vida e Feitos de Júlio César, documento do século XV, trazendo reflexões em perspectivas diversas sobre as técnicas que já eram usadas tradicionalmente e as novidades que foram surgindo dessa passagem do papel para as bases informatizadas.

Arthur de Salles, O resgate do que se tem a dizer

Manuela Santos Ribeiro

Muito vem sendo escrito e estudado a respeito do poeta baiano Arthur de Salles. Por 27 anos o grupo de Filologia Românica da Universidade Federal da Bahia vem organizando, editando e estudando sua obra. Neste trabalho tem-se como objetivo mapear a fortuna crítica do autor registrada no Banco de Dados, Dossiê Arthur de Salles, considerando os éditos e os inéditos. Após a finalização da primeira etapa, serão lançados todos os dados no sistema e em seguida será feito o expurgo dos registros duplicados desse material. Uma vez separados os éditos dos inéditos, para o desenvolvimento desse trabalho só serão relevantes os textos inéditos, ou seja, aqueles que não foram estudados. Como resultado, será proposto o estabelecimento dos textos inéditos em processo e a edição dos éditos.

Pilar do comunismo ou um escritor exótico? Estudo descritivo das traduções polonesas das obras de Jorge Amado

Jaroslaw Jacek Jedzikowski

As traduções polonesas das obras de Jorge Amado começam a ser publicadas na Polônia, a partir de 1949, período em que o país vive a ditadura Stalinista. A censura admite somente produções culturais comprometidas com o realismo socialista. Amado é traduzido junto aos autores que simpatizam com o comunismo. Portanto, o escritor brasileiro exerce um grande impacto sobre o sistema político-social polonês. O momento da introdução do autor baiano para o sistema literário polonês coincide com o período do exílio de Amado na Europa. Até o ano de 1993 são traduzidas, editadas e reeditadas, dezessete obras de Amado: onze no período stalinista, e seis nos tempos de maior abertura do sistema político. Amado tem na Polônia 20 edições até o ano de 1957, e seis edições em todo o período posterior. O estudo das traduções vai além da problemática meramente lingüística. O projeto da pesquisa visa estudar a dialética dos condicionamentos nos quais começa e se desenvolve o intercâmbio entre os dois sistemas culturais: o brasileiro e o polonês, operado por meio da obra traduzida de Jorge Amado.

Orientadora: Prof. Dra. Eliana Paes Franco
Doutorado / Defesa: março, 2008.

Entrecruzamentos do real e do ficcional em Cem Mentiras de Verdade de Helena Parente Cunha

Clarice Costa Pinheiro

A partir da leitura do livro Cem mentiras de verdade, de Helena Parente Cunha, pude perceber que a autora busca apresentar a realidade social brasileira como quem revela instantâneos de vivências cotidianas. São flashes de pequenas “realidades”, fragmentos de histórias. Publicado na conturbada década de 80, o livro tem como foco central as contradições econômicas do país e a manutenção da situação de opressão da mulher nessa sociedade patriarcal excludente. Constituído de micronarrativas que são pequenos textos cuja principal característica consiste em dizer o máximo no mínimo de palavras sem que haja perda de sentido, o livro antecipa a discussão sobre essa nova forma breve no Brasil. Discussão essa que só seria vista na década seguinte e que, entretanto, já estava bastante difundida nos países hispano-americanos. O título Cem mentiras de verdade antecipa o conteúdo do que vai ser narrado e atenta para o fato de que não há nem mentiras e nem verdades, tudo é ficção construída com o intuito de criar realidades.

Algumas considerações sobre o vocabulário dos terreiros em Os Pastores da Noite, obra de Jorge Amado.

Bárbara Cristina Mercês dos Santos

A partir do estudo do léxico de Jorge Amado na obra - Os Pastores da Noite, listou-se vocábulos concernentes à temática da religião afro-baiana que faz parte do dia-a-dia do povo de santo da Bahia. Utilizando fundamentação teórica da lexicologia e lexicografia, pretende-se elaborar um glossário da obra em questão. Sabe-se que o leitor estrangeiro a realidade baiana, apresenta frequentemente, dificuldade para a compreensão da obra devido à especificidade deste léxico, bem como não há ainda um vocabulário que reúna amostra considerável das lexias deste campo semântico. O dito léxico faz parte da pesquisa na área de Filologia Românica, Domínios Lingüísticos na România, e visa à confecção de um Pequeno Vocabulário dos terreiros da Bahia de Jorge Amado.

Os Pastores da Noite: uma releitura intersemiótica

Ane Cleide dos Santos de Carvalho

A adaptação recontextualiza a obra escrita, gerando outras imagens e reinscrevendo-a numa outra realidade, na qual é recebida. Adaptar envolve transformar e sua construção se dá de acordo com certas convenções e restrições dependentes do tempo e do lugar em que são realizadas, assim como do público a que se destina. Optar por suprimir, acrescentar, modificar o texto literário transposto para as telas é algo que está ligado diretamente ao objetivo e às condições de trabalho do tradutor. Uma vez traduzidas, para os meios audiovisuais, as obras literárias deixam de estar no centro da estrutura e passam a estar na periferia. Assim, o que é centro/cânone em uma determinada época, lugar ou meio, pode ser marginal em outras condições e vice-versa. O objetivo da pesquisa é analisar se e de que forma os aspectos de romântico, sedutor e anarquista, atribuídos a Jorge Amado, estão presentes na adaptação do romance Os Pastores da Noite para a minissérie homônima da TV Globo, em 2003, sob a direção de Maurício Farias.

Orientadora: Prof.Dra. Elizabeth Ramos
Mestrado / Defesa: março, 2008.

Aspectos da abordagem dicotômica da linguagem

Vera Lúcia Queiroz Alves

Esta comunicação tem por objetivo focalizar a relação fala-escrita, sob a perspectiva da denominada “abordagem dicotômica da linguagem”, tendo por meta apresentar reflexões sobre o referido enfoque que, na verdade, ofusca o funcionamento discursivo da oralidade e escrita no seio social, ou seja, enquanto práticas sociais. Para tanto, busca-se apoio no suporte teórico da lingüística Textual, uma das correntes do paradigma funcional da linguagem.

Reflexões sobre a escrita sob à luz das práticas sociais

Maria Amélia Rocha Machado

Este trabalho tem por objetivo abordar a escrita através do enfoque sociointeracionista da linguagem, apoiando-se sobremaneira nos pressupostos teóricos da Lingüística Textual hodierna. Apresentam-se reflexões sobre o papel da escrita nas sociedades, demonstrando o caráter mitológico de supremacia atribuído a essa modalidade lingüística ao longo dos anos. No entanto, busca-se ressaltar a importância da escrita dentro da perspectiva das práticas sociais, através da análise do contínuo tipológico de gêneros textuais.

Considerações sobre a lingüística textual

Carla Maria França do Nascimento

Esta comunicação tem por meta discorrer sobre a Lingüística Textual, procurando destacar o seu objeto de estudo, ou seja, o texto, entendido como “um evento lingüístico, social e cognitivo, de natureza comunicativa, falado ou escrito, de qualquer extensão, organizado de acordo com os princípios morfológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e cognitivos das línguas envolvidas” (MARCUSCHI, 2003). Para tanto, pretende-se apresentar reflexões sobre o porquê do seu surgimento, a partir do quadro teórico-filosófico da ciência da linguagem que envolve os primeiros cinqüenta anos do século XX.

As marcas do discurso pedagógico e seu caráter instrutivo-educativo no universo quadrinizado de Maurício de Souza

Erivelton Nonato de Santana

O presente trabalho tem como objetivo realizar uma breve análise do processo discursivo e produção de sentidos presentes nas histórias em quadrinhos produzidas por Mauricio de Sousa, buscando evidenciar marcas do discurso pedagógico no conjunto de sua obra e o caráter educativo presente nele. Ao analisar um conjunto de histórias da Turma da Mônica, foi possível perceber uma acentuada preocupação do autor das narrativas com os aspectos instrucional e educativo. Esta preocupação mostra-se em diversos conteúdos discursivo-ideológicos materializados pelos enunciados dos sujeitos representados por personagens pertencentes ao universo quadrinizado criado pelo autor. Eles estão inseridos em determinados contextos sócio-comunicativos reproduzidos por estas histórias, as quais são responsáveis pela representação de um conjunto de valores capazes de conduzir os leitores a refletir sobre certos hábitos e costumes considerados corretos e positivos na sociedade. Ao manterem contato com essas histórias, o público leitor pode dialogar com seus conteúdos discursivo-ideológicos, aspecto que favorece a assimilação de certos valores identificados com determinadas formações ideológicas que interpelam formações discursivas correspondentes. A pesquisa encontra-se em fase final de desenvolvimento.

Mestiçagem e racismo: articulações estratégicas do Atlântico Negro Tropical

Jesiel Ferreira de Oliveira Filho

Na tese de doutoramento que estou finalizando – “Raça” e poder em textos e contextos luso-angolo-brasileiros: articulações estratégicas – desenvolvo uma abordagem interdisciplinar que discute as relações entre racismo e alienação em sociedades lusófonas. O mapeamento polifônico de representações culturalistas e literárias das heranças psicossociais do colonialismo nos imaginários angolano, brasileiro e português mostra que as noções ambivalentes de “raça” sedimentadas pela mestiçagem foram apropriadas pelo patriarcalismo tropical como dinamizadores simbólicos de um dispositivo biopolítico que ainda hoje desempenha funções básicas na regulação das diferenças sociais. Semi-transparentizado entre a pluralidade de corpos e linguagens lusófonas, o peso dos signos e enunciações raciais deforma agentes e discursos através de uma rede capilarizada de relações interpessoais cujo funcionamento intersticial permite a ativação de regimes discriminadores em paralelo às regras da “democracia racial”, enquadrando dissimuladamente características físicas e culturais dos sujeitos de acordo com os modelos de supremacia européia fixados pelo poder (neo)colonial. Operando como um “nominalismo dinâmico” (GILROY), os significantes da “raça” configuram assim um aparelho de repressão e exploração manobrado estrategicamente através das pedagogias da morenidade. Pretendo discutir alguns efeitos semióticos e políticos desse mecanismo de dominação através da triangulação de imagens literárias correspondentes ao que denomino de ideologema (JAMESON) da antropofagia senhorial.

“Um pouco de poesia a limitar todo o presente”: António Jacinto na biblioteca de literatura angolana

Fernanda Evelyne da Conceição Silva Cardoso

A pesquisa avalia as imagens construídas para Angola e para o homem africano no livro Poemas do escritor António Jacinto, integrante da Biblioteca de Literatura Angolana ( Maianga,2004 ). Nesse texto examinam-se textos, pretextos e os contextos nos quais as imagens foram produzidas, relacionando-os a questões de ordem social, política e cultural. Avalia-se o poder de intervenção dessa conjunção de imagens e contextos para a inserção desse escritor na referida coleção editorial, associado a sua fortuna crítica.

A identidade e a questão do mestiço na sociedade angolana a partir de Mayombe, de Pepetela

Eliana dos Santos Ferreira

O objetivo da comunicação é analisar e refletir, a partir por meio do personagem denominado ‘Teoria’ do romance ‘Mayombe’, de Pepetela (1980) a questão da identidade angolana, especialmente os significados que podem ter ligação ao significado de "sentir-se" mestiço. Também será destacada a posição intermediária do mestiço na sociedade angolana nas décadas de 60 e 70 e as articulações entre o maniqueísmo ocidental que podem ser encontradas na narrativa do referido autor angolano.

Relações étnicas em Musseques de Luanda, Angola, em textos de Antonio Cardoso, e imagens correlatas nas “ Cidades de Deus” Brasileiras.

Darliane Oliveira de Souza Rocha

A pesquisa avaliou a obra de António Cardoso, A “Fortuna”, integrante da Biblioteca de Literatura Angolana (Maianga, 2004), identificando os tratamentos dados a questões identitárias culturais referentes às relações raciais identificadas nos musseques, bairros periféricos de Angola. A identificação e avaliação das imagens relacionais entre Angola e Brasil se deram através do estudo comparado com o filme Cidade de Deus, de Fernando Meireles, confrontando-se, nas obras selecionadas, os tratamentos às questões da pesquisa, no âmbito das culturas brasileiras e angolanas realizando-se comparações com os entornos sócio-político-econômicos e culturais dos ciclos de colonização em cena. As questões nucleares da pesquisa foram os conceitos de etnicidade e raça, mestiçagem/hibridação, hegemonia/discriminação, exclusão, que foram avaliados e analisados nas obras, em suas tensões e controvérsias. Ressalta-se a idéia que as relações étnicas analisadas nas obras angolana e brasileira aproximam-se pela relativização de conceito e classificação das categorias de raça/etnia, assim como pelo processo de subalternização, dentro e fora do ambiente marginalizado do musseque angolano e da favela brasileira.

Valores tradicionais africanos versus exigências da modernidade em Mia Couto

Andréa Viana Falcão dos Santos

Atualmente, a produção cultural de países africanos de língua portuguesa problematiza, de forma recorrente, questões relacionadas à idéia de nação, demandas identitárias nacionais e noções de pertencimento nacional. Tópicos dessa natureza têm merecido destaque em obras literárias de escritores africanos, a exemplo do moçambicano Mia Couto. Como parte do projeto de dissertação de mestrado “Ambigüidades e controvérsias do lugar da nação no discurso cultural moçambicano: o caso Mia Couto”, ligado ao PPGLL/UFBa, sob orientação da Profa Dra Maria de Fátima Ribeiro, a presente comunicação, a partir do exame dos romances Terra Sonâmbula, O último vôo do flamingo e Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, avalia de que forma o confronto entre a permanência de valores tradicionais e as exigências da modernidade, muitas vezes representado pelo surgimento de um embate entre oralidade/letramento, transtorna a formação do discurso sobre a nação na cultura moçambicana, sugerindo, ou não, possibilidades de articulação de dicotomias, em que essas sejam, de certa forma, superadas.

O scriptor 3 do livro do Tombo II e o (in)consciente lingüístico

Jaqueline Carvalho Martins de Oliveira

O Livro II do Tombo é um dos 11 volumes da coleção que se encontra no Acervo de Obras Raras da Biblioteca do Mosteiro de São Bento da Bahia. Durante a análise do livro, ainda não finda, pode-se verificar que o scriptor 3 (tabelião) não grafa os vocábulos inteiramente e que essa fragmentação não se dava de maneira aleatória. Fez-se necessária a discussão de tal particularidade, que resultou neste trabalho: breve comentário sobre tais notações morfemáticas, de caráter hipotético, especulativo, mas baseado em dados empíricos. No primeiro contato com o manuscrito percebia-se o fato de que o scriptor 3 grafava os termos, (des)agregando-os por seu contexto fonético e não por sua morfologia, como hoje se faz. As partírculas, sistematicamente, agregavam-se umas às outras ou à outros termos maiores. As correntes estruturalistas consideram os falantes inconscientes com respeito a processos que remetem a diacronia lingüística, tais como o processo de formação de palavras. A língua é concebida como instrumento de comunicação, homogêneo, exterior e, portanto, inatingíveis por parte dos falantes. Nas últimas décadas ganharam força vertentes de análise que primam tanto pelo aspecto estrutural, quanto pelo contextual: a ciência dos fatores intra e extralingüísticos tornaram, de igual modo, relevantes.

Livro II do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia: descrição intrínseca

Marla Oliveira Andrade

A antiga capital da América portuguesa recebeu o Mosteiro de São Bento no ano de 1581 e desde então este tem participado da história da cidade nos seus momentos mais importantes. Os mais de quatro séculos de história e tradição consagram o Mosteiro de São Bento da Bahia como espaço privilegiado para a produção e difusão do conhecimento. Uma parte substancial desta história encontra-se preservada nos Livros do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia. A pesquisa referente ao Livro II do Tombo constitui-se da edição composta pela descrição geral do volume, dos critérios de transcrição do texto, da análise filológica, da lista de abreviaturas presentes e da edição semi-diplomática do texto. Notam-se, pelo menos 4 scriptae diferentes, em letras cursivas, três da época em que o documento foi escrito (uma do termo de abertura, outra do corpo do texto e a última do tabelião que atesta a legalidade do documento) e a quarta pertence a um scriptor posterior, provavelmente do século XX. A descrição intrínseca traz as principais características de cada scripta, suas letras intreressantes e abreviaturas. A edição desse manuscrito é fundamental para a descoberta e compreensão dos anos iniciais vividos no Brasil.

A manipulação da pontuação em: Rimas varias e lampeões

Alessandra Mascarenhas Sant’Ana

A criação textual é um processo de busca incessante que põe em voga diversos aspectos, dentre eles a vontade do autor em expressar o seu objeto de criação. É nesse momento que se revela o estilo de cada autor. Poeta e escritor baiano de uma obra rica e vasta, o modus scribendi de Arthur de Salles nos revela vários momentos de construção de sua escrita. A pontuação, um dos recursos empregados nesse aprimoramento é utilizada por ele com muita propriedade, não apenas como um ato de colocar sinais diacríticos, mas como uma maneira de por vida e de criar um novo efeito de sentido para o seu discurso. Objetivou-se com a análise dos poemas Rimas Varias e Lampeões, assinalar a tendência desse escritor nos aspectos concernentes à pontuação, usando como base para tanto, o trabalho realizado por Maria Dolores Teles, que fez um estudo descritivo da pontuação lingüística-estilística em manuscritos autógrafos desse mesmo poeta, para assim traçar o perfil estilístico de Arthur de Salles. Como resultado comprova-se que Arthur de Salles utiliza-se principalmente da vírgula impondo assim um ritmo mais rápido ao enunciado, todas as alterações feitas foram para provocar um novo efeito de sentido em seu texto.

Caminhos da Crítica : o imaginário sobre as sátiras medievais galego-portuguesas

Arivaldo Sacramento de Souza

Diversas investidas, tanto no âmbito das Ciências Sociais quanto no multiforme campo das Letras, têm sido feitas para a análise dos textos satíricos galego-portugueses. A análise da crítica de tais textos possibilita a desconstrução de “truísmos” ora comprometidos com narrativas anacrônicas com vistas ao discurso fundador nacionalista português, ora com um discurso de cunho sanitarista, ahistórico que despreza a contextualização na qual foi possível um dado texto. Não se objetiva, absolutamente, a fixação de um cânone crítico para os textos satíricos profanos. Quer-se, apenas, observar quais foram os significados produzidos e a quem foi interessante fazê-los. Faz-se necessária essa revisão para que não se fomente uma “tradição” crítica romântica do medievo, nem subjetividade na análise dos saberes sobre a sexualidade ibérica medieval.

Breves Comentários sobre a Autonomia da Obra de Arte

Thiago Martins Prado

O presente trabalho discute a construção do ideal de autonomia do projeto esclarecido da modernidade, apontando considerações como a de Jürgen Habermas, para o qual a arte da modernidade foi um empreendimento efetivado por meio de uma divisão tripartida do saber (ciência, moral e arte) com o intuito de superar antigas relações entre o conhecimento metafísico e a cosmovisão religiosa. Ao pensar a arte da modernidade como uma criação da burguesia, a comunicação reconhece a autonomia como uma marca para autenticar o pensamento da classe mercantil e, estrategicamente, para expandir tal pensamento. No entanto, no caso do desenvolvimento dessa autonomia, há especificidades na forma como foi compreendida a sua delimitação como área do saber de modo que não pode ser equiparada à edificação das outras divisões do conhecimento. Apropriando-se do romance O Colecionador, de John Fowles, uma breve discussão teórica a respeito da condição da arte como autônoma na sociedade burguesa e da ameaça dessa autonomia na sociedade contemporânea será relatada nessa apresentação a fim de que se possa enxergar algumas mudanças de paradigmas quanto à função estética. De forma panorâmica, considerações de Theodor Adorno, de Walter Benjamin, de Jean Baudrillard e de Claude Lévi-Strauss serão articuladas de modo a refletir sobre questões centrais sobre a arte na modernidade e na contemporaneidade.

O pensar poético de Silviano Santiago

Saulo Silva Moreira

O posicionamento lírico de Silviano Santiago se configura e dialoga com a lírica contemporânea que não se apresenta como simples expressão de uma emoção, mas como um espaço eminentemente reflexivo. O presente trabalho O pensar poético de Silviano Santiago dá continuidade à análise da produção literária do escritor, inserida no projeto O escritor e seus múltiplos: migrações. Trata-se da configuração de múltiplos sujeitos poéticos inscritos nos livros Salto, Crescendo durante a guerra numa província ultramarina e, especialmente, Cheiro forte – sua última produção poética, de 1993. Considerando as reflexões realizadas no posfácio de Cheiro forte, analisamos como a voz poética de Santiago se justapõe ao se suplementar e ecoar com as vozes ficcionais e teórico-críticas do escritor.

A subjetividade da lembrança em De Cócoras, Silviano Santiago

Ester da Anunciação Duarte

Esta comunicação dá continuidade ao estudo das questões relacionadas à produção ficcional do escritor Silviano Santiago, considerando o papel da memória na reinvenção das histórias e a concepção de autobiografia que se pode delinear nos seus textos. Na etapa aqui proposta, a partir da leitura de “De cócoras”, é possível tecer reflexões a respeito dos modos de representação das subjetividades, tendo em vista as relações entre a reconstrução de uma história individual e cultural. Dessa maneira, pode-se desenvolver uma reflexão sobre o papel da memória, levando-se em consideração as migrações que se estabelecem entre as múltiplas faces da escrita, observadas na leitura do texto “De Cócoras" que se constitui a partir do entrecruzamento de diversos discursos, como literatura, música, cinema, psicanálise.

Literatura pop contemporânea: geração 90 e livros do mal

Antonio Eduardo Soares Laranjeira

Estudiosos da literatura pop estabeleceram parâmetros para a abordagem dessas narrativas. A apropriação de signos e mitos engendrados pela sociedade de consumo, a dessacralização da arte e da cultura, a “crítica silenciosa”, a representação singular do corpo e do erotismo e a fusão de linguagens utilizadas pelos artistas pop são alguns dos traços atribuídos a esse discurso literário. O caráter subversivo parece manter-se como traço da literatura pop brasileira contemporânea. Todavia, a partir da década de 90 (em textos da Geração 90, da editora Livros do Mal e alguns textos britânicos e norte-americanos), linhas de fuga podem ser traçadas. A busca pela identidade nacional não figura nos planos dos escritores, inseridos num contexto globalizado. O ímpeto contestador persiste nesses textos, mas, como na sociedade pós-moderna de consumo a obtenção de prazer é uma das principais metas do indivíduo, é preciso considerar também o papel da cultura pop, relacionado com o entretenimento. Corpo, sexualidade e amor assumem configurações peculiares, atreladas às transformações ocorridas na sociedade ocidental, durante as últimas duas décadas. Propõe-se refletir acerca das configurações da literatura pop brasileira contemporânea e comparar com textos produzidos por escritores britânicos e estadunidenses.

Graciliano Ramos, Silviano Santiago e Nelson Pereira dos Santos: O olho torto e a invenção do entre-lugar

Angela Sampaio Meneses

O abalo das noções tradicionais de sujeito, autoria, discurso, situa a (auto)biografia textual/cinematográfica numa nova perspectiva – a do fenômeno da cultura. Os autores em questão (re)escreveram, (re)contaram a história social, cultural e política do Brasil, sob outras lentes, outro olhar que não o do registro oficial imposto e hegemônico, mas por um movimento avesso, do desvio, que rejeita as supostas verdades divulgadas pelos sistemas totalitários no país. Além disso, a problemática dos países periféricos, colonizados, latino-americanos, a questão do poder-saber, a produção artística, o público, o mercado, a cidadania, a globalização, o subdesenvolvimento.. Nesses termos a estratégia do percurso sinuoso da margem, do interstício na criação do entre-lugar (de Silviano Santiago) como resistência e negação do lugar de poder e autoridade, com a quebra das hierarquias e dicotomias ocidentais, é metaforizada no olho torto da história infantil de Graciliano Ramos. Ele reencena o olho torto na sua vida/obra, assim como o fazem Santiago e Nelson Pereira dos Santos, nas revisitações, apropriações dessa vida/obra, produzindo diálogos, releituras, recortes, deslocamentos, e na discussão das questões mencionadas presentes nas obras dos três intelectuais.

Análise de tarefas: uma estratégia para aumentar a produção oral do aluno na aula de língua estrangeira

Nilton Varela Hitotuzi

Esta comunicação tem por finalidade relatar o resultado de uma pesquisa em sala de aula realizada com estudantes de inglês como língua estrangeira em nível intermediário. A pesquisa objetivou verificar o potencial interativo da análise de ciclos de tarefas. A aferição desse fenômeno foi feita através do registro do tempo de fala dos alunos em relação ao tempo de fala do professor, os momentos de silêncio e o tempo de duração da aula. Os resultados indicaram um percentual elevado de interação aluno-aluno em comparação com a interação professor-aluno. Ademais, ficou evidenciado nas falas dos participantes que essa prática pode também contribuir para o desenvolvimento da capacidade crítico-reflexiva do aluno.

O ensino de inglês como L2 para o desenvolvimento da competência comunicativa intercultural

Adelaide Augusta Pereira de Oliveira

Esta pesquisa teve como objetivo analisar como dois professores não nativos de língua inglesa de um instituto de línguas e dois de um curso de extensão universitário em Salvador, Bahia lidaram com conteúdo cultural presente nos livros-texto globais adotados pelas instituições, de modo a desenvolver a competência comunicativa intercultural dos alunos. O quadro teórico que embasam este trabalho é composto dos modelos de competência comunicativa intercultural (BYRAM, 1997; MORAN, 2001; FANTINI, 2000), o conceito de cultura no sentido restrito (small culture) de Holliday (1999; 2004), os pilares para a educação para o século 21 (DELORS, 1996) e os princípios da transdisciplinaridade (NICOLESCU, 1999; 2000; 2002). As questões que nortearam esta investigação podem ser resumidas em se e como os professores identificam os elementos culturais presentes no livro-texto de modo a desenvolver a competência comunicativa intercultural dos alunos dentro dos princípios da transdisciplinaridade. Uma análise etnográfica dos livros-texto usados, das aulas observadas, e das respostas dos professores a uma entrevista e a três questionários demonstra que é preciso que haja um tratamento mais sistemático em relação a questões culturais e à aprendizagem intercultural nos currículos para cursos de formação de professores sejam eles de nível universitário ou não.

Democratização do ensino de Inglês como movimento social

Gilberto Luis Santos Botelho

Este trabalho tem como objetivo mostrar os alicerces teóricos e a prática do trabalho dos professores do Núcleo do Departamento de letras Germânicas (NELG) para um tratamento inclusivo dos bolsistas que estudam no curso de extensão de inglês da UFBA. Com os olhos voltados às idéias de Paulo Freire, que afirma que o ato de conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do aluno, não para cristalizá-la, mas como ponto de partida para que ele avance na leitura do mundo, apontamos caminhos para a transformação do professor em um profissional mais atento às diferenças. Focamos no professor como agente transformador, no profissional que utilize na sua prática instrumentos que valorizam a cultura do seu aluno e desenvolvam o senso crítico dos mesmos na análise de outras culturas apesar de termos constatado que o desenvolvimento da competência intercultural de nossos alunos não é o único fator responsável pelo ensino de boa qualidade.

Estratégias de aprendizagem do inglês utilizadas por alunos de comunidades populares

Alberto Santos de Miranda

A identificação das estratégias utilizadas por alunos de camadas populares no processo de aprendizagem do inglês torna-se condição sine qua non para o desenvolvimento da autonomia desses mesmos sujeitos. Por causa disso, verificaremos nesta comunicação como tais estratégias podem ser usadas de forma mais eficiente e eficaz pelos estudantes bolsistas do Núcleo de Extensão de Letras Germânicas da UFBA (NELG). Lançando mão das idéias de Oxford e Paiva, no tocante ao uso de estratégias de aprendizagem para um melhor aprendizado da língua inglesa e das idéias de Freire, no que tange ao desenvolvimento de uma pedagogia crítica, analisaremos os resultados obtidos através de questionários respondidos pelos estudantes bolsistas do NELG. Esperamos, com esse trabalho, demonstrar como tal uso de estratégias pode influenciar no sucesso ou insucesso desses aprendizes.

Mosaico feminino na poesia de Elizabeth Bishop

Vívian Souza de Santana

Dez poemas da escritora norte americana Elizabeth Bishop, assim como as suas releituras, presentes no documentário Voices and Vision, são alvo do projeto de pesquisa intitulado “Elizabeth Bishop: estampas femininas em seus poemas e releituras fílmica”, desenvolvido no Departamento de Letras Germânicas da UFBA. Pretende-se aqui apresentar os caminhos a serem trilhados no desenvolvimento da pesquisa em questão, salientando que a realização deste trabalho privilegia os estudos do dossiê de criação dos poemas, composto de variadas versões manuscritas desses, correspondências passiva e ativa, além de recortes de jornais e revistas da época. O trabalho tem por objetivo apresentar os elementos chaves na composição da imagem feminina no poema e a maneira em que se estruturam para que a mulher ganhe forma no corpo do poema.

As malhas textuais da ação criadora de Sancho Rodrigues

Tacyana Bonfim Moreira

A busca pelo equilíbrio entre o discurso pretendido e o texto terminal, condizente com as intenções autorais, requer processos de reelaboração. Sancho Rodrigues, texto do poeta baiano Arthur de Salles, é considerado fragmentário. Em função disso, Lucidalva Assunção e Maria Dolores Telles buscaram percorrer a trilha textual, procurando ordenar os fragmentos e as organizações frásicas dos textos. A partir desses dados, faz-se um trabalho, cujo objetivo é de fazer um estudo comparativo dos testemunhos e estabelecer a sua seqüência cronológica, permitindo fazer-se a análise lingüístico-estilística dos movimentos de correção realizados pelo autor. Utilizaram-se, então, como metodologia, a análise das organizações textuais e o levantamento dos movimentos de correção documentados. Estando o trabalho em processo, tem-se, como primeiro resultado, a comprovação do percentual das marcas de correção deixadas pelo autor na busca de uma maior expressividade do seu discurso, corroborando os dados anteriormente analisados.

Os acervos documentais de Bishop: um confronto com sua releitura fílmica

Sandra Cristina Souza Corrêa

O trabalho pretende apresentar a pesquisa que tem como objetivo dar continuidade à organização do dossiê de criação de Elizabeth Bishop sediado no Departamento de Letras Germânicas da UFBA. Na atividade, compreendemos a escritura de poemas, de correspondências e notas pessoais da autora como um processo cognitivo básico de crítica genética. Aplicaremos estudos sobre semiótica fílmica ao documentário Voices&Visions, de 1988, que alude ao acervo da autora. Durante a pesquisa, será realizado um mapeamento de lugares, fatos, depoimentos e pessoas que influenciaram a poética de Bishop.

Edição de alguns poemas dispersos de Godofredo Filho

Marta Maria da Silva Brasil

Apresentação dos resultados da dissertação Edição de alguns dos poemas éditos e inéditos de Godofredo Filho. Tecem-se breves considerações sobre o Acervo do escritor. Traça-se o perfil do poeta e do intelectual modernista à frente do IPHAN, Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Dá-se relevo ao seu papel como precursor do Movimento Modernista na Bahia. O corpus documental da edição compõe-se de dez textos éditos, com testemunhos autógrafos e impressos, e quatorze inéditos, datiloscritos autógrafos. Apresentam-se os textos críticos dos poemas, a partir da eleição do texto de base, indicando-se todas as variantes no aparato crítico.

Um pai-manuscrito: o caso Artur Azevedo

Mariana Fagundes de Oliveira

Este trabalho — fundamentado em um relato de experiência com o acervo do autor literário Artur Azevedo — aborda a ética no tratamento de acervos particulares, apresentando pactos de natureza distinta entre os quais o pesquisador se vê dividido: um pacto com o autor-objeto; um pacto com o público leitor; e ainda um pacto com o detentor do acervo.

Neologismos nas letras de músicas de Carlinhos Brown

Josenildes dos Santos Apolinário

Carlinhos Brown é muito comentado na mídia em geral em razão do vocabulário de que se utiliza em suas composições. Alguns o criticam duramente por isso, ao passo que outros vertem elogiosos comentários acerca dessa característica de seu trabalho musical. Verificou-se, no desenvolvimento da pesquisa, um uso extensivo de neologismos em suas composições. A leitura de embasamento teórico, bem como da busca de textos referentes ao assunto Neologismos na internet, possibilitou a avaliação de diversas opiniões acerca desse fenômeno lingüístico e conseqüentemente a discussão do mesmo no caso de Brown. A partir do trabalho de releitura e de novas análises musicais, comprovou-se a recorrente presença de neologismos nas músicas de Carlinhos Brown principalmente no aspecto fonológico onomatopaico, na composição pelo processo de sufixação, raros casos de ressemantização e, mais constantemente, a de um tipo especial de empréstimo lingüístico.

A criação de nomes próprios no português brasileiro : aspectos mórficos da neologia antroponímica

Priscila Maria Possidônio de Oliveira


Ao analisarmos o estudo da Onomástica nas últimas décadas, sobretudo, no que diz respeito à antroponímia, percebemos uma carência de pesquisas sistemáticas acerca dos nomes próprios de pessoas no Brasil. Muito pouco, ou quase nada, se tem dito sobre a neologia antroponímica, tão característica do português brasileiro. Com esse enfoque, pretendemos, inicialmente, desenvolver uma tentativa de análise etimológica e mórfica dos neologismos antroponímicos levantados no corpus constituído pela lista de aprovados no vestibular da UFBA 2005 - dados da primeira fase do projeto Todos os Nomes. Para a seleção dos prenomes considerados neológicos, levamos em consideração o critério de não estarem dicionarizados no Tomo II do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antenor Nascente e não estarem atestados na Bíblia. Desta forma, de um total de 471 (quatrocentos e setenta e um) nomes iniciados pela letra A, 40 (quarenta) não foram encontrados registrados em nenhum dos dois documentos utilizados como referência, conquistando assim o status de suposto neológico. Os dados coletados foram segmentados para análise, considerando-se o método da comutação e a recorrência dos elementos formativos dos antropônimos que foram analisados a partir dos principais processos de formação de palavras: derivação (prefixação e sufixação) e composição.

Algumas reflexões sobre a antroponímia de origem estrangeira no português da Bahia.

Irani Sacerdote de Souza Silva

A Antroponímia estuda os nomes de pessoas e constitui, pois, um ramo da Onomástica. Dessa forma, a pesquisa antroponímica é relevante para os estudos lingüísticos, tendo em vista que o ato de nomear é inerente ao homem e se manifesta através das variadas línguas. O presente trabalho tem como objetivo estudar aspectos do processo de formação da antroponímia baiana, mais especificamente os prenomes tomados por empréstimos, selecionados a partir da lista de aprovados no vestibular da UFBA 2005. Os resultados obtidos a partir da análise do corpus evidenciam que, dentre os nomes estrangeiros, os de origem inglesa obtiveram uma maior ocorrência. Conclui-se que essa preferência se dá por conta da grande influência exercida pelos Estados Unidos no território brasileiro, o que evidencia uma forte dependência cultural e, conseqüentemente, lingüística.

Empréstimos léxico-semânticos e neologismos na língua francesa

Ana Cláudia de Ataíde Almeida Mota

A nossa pesquisa visa identificar, através dos processos de inovação lexical na língua francesa, a presença de palavras estrangeiras e de neologismos no seu acervo lexical. Inicialmente realizamos o estudo dos pressupostos teóricos e, paralelamente a esta prática, pesquisamos acerca da presença de empréstimos e neologismos em quatro jornais de grande circulação na França - Le Monde Diplomatique, Le Monde, Le Figaro, Liberation - no Jornal Suíço 24 Heures e também no Jornal Canadense Le Devoir. O corpus que selecionamos é constituído de cinqüenta e seis lexias, divididas em 39 empréstimos léxico-semânticos e 15 neologismos. Baseando-nos nestes dados, verificamos que a existência dos empréstimos provenientes da Língua Inglesa são dominantes. A influência que esta última exerce sobre a Língua Francesa é muito acentuada em decorrência da supremacia lingüística que os Estados Unidos da América do Norte vêm exercendo sobre a maioria dos povos, e a língua francesa não ficou excluída desse contexto.

“A infância é um antigamente que sempre volta”: representações da angolanidade no romance Bom Dia Camaradas, de Ondjaki

Suzana Pilar Lopes Cardoso Gutierrez

O projeto Etnicidades: entre Bahia e Angola investiga as figurações e reconfigurações identitárias fundadas na africanidade e as que emergem da reconstrução diaspórica da afro-descendência ou da afro-baianidade, através de diálogos contemporâneos entre Bahia e Angola. Nesse projeto, insere-se o meu estudo do romance Bom Dia Camaradas do jovem escritor angolano Ondjaki (Ndalu de Almeida), focalizando as representações da africanidade angolana e seu posterior confronto com a poética da africanidade baiana em textos dos Cadernos Negros. A partir do mapeamento do romance africano, bem como das leituras de fundamentação teórico-crítica e histórica, serão apresentados os resultados parciais referentes aos quatro primeiros meses da investigação: a identificação e a análise das representações da racialidade e da angolanidade que podem ser lidas na obra, articulando-as à história colonial e nacional angolana (guerra civil até o pós-guerra).

(Afro)baianides: a construção e a reiteração de estereótipos e clichês em textos de autores baianos

Rosivânia de Souza França

O plano de pesquisa intitulado “Afrobaianidades e A Bahia Cantada: a construção de antologias como estratégia de democratização da leitura” teve por objetivo coletar, selecionar, mapear e analisar as obras ou fragmentos de obras de autores e artistas baianos cujos textos contribuíssem para a compreensão das questões culturais, estéticas, socioeconômicas, geográficas, políticas, raciais e religiosas que constroem os discursos e imagens da diferença cultural baiana, tendo em vista a publicação de duas antologias. A comunicação apresentará, como resultado, a análise da construção discursiva de textos de autores baianos selecionados entre os incluídos nas antologias, tendo em vista a observação e problematização da construção de estereótipos e clichês sobre a afrobaianidade e o singular “viver” baiano, em diferentes épocas e lugares de enunciação.

A Bahia cantada e as interações de Exu e Obaluaê na formação artístico-musical de Carlinhos Brown

Jober Pascoal Souza Brito

O plano de trabalho desenvolvido investigou as linhas político-culturais de atuação do compositor e percussionista Carlinhos Brown na ressignificação do legado cultural africano, em especial de símbolos das religiosidades de matriz africana, intentando promover aproximações entre as mitologias relativas a Exu, Obaluaê e Carlinhos Brown. Para tanto, foram escrutinadas informações e leituras que tratam de aspectos da afro-baianidade, do carnaval e da obra do artista baiano em questão, já disponíveis no acervo do Projeto. Os resultados da pesquisa evidenciam que o músico se apropria diretamente dos arquétipos dos orixás, produzindo remixagens sobre um mesmo arcabouço cultural, repontencializando os sentidos transgressivos dessas simbologias na contemporaneidade, os deslocamentos propostos. A postura político-cultural de Carlinhos, simultaneamente criativa e crítica, não apenas do legado cultural de matriz africana, mas especialmente da modernidade ocidental, configura-se como mais uma resposta afro-atlântica, que se articula a outras expressões culturais pós-escravas, na contestação e denúncia da permanência dos terrores raciais.

Exu: a sacralização do malandro

Erica dos Anjos Pereira

Resultante de pesquisa individual e voluntária vinculada ao projeto Etnicidades: entre Bahia e Angola, sob a orientação da Prof(a) Dr(a) Eneida Leal Cunha, Exu: a sacralização do malandro procura remontar os mecanismos de identificação , tendo como suporte as cantigas do “povo de rua”, pelos quais a figura social do malandro é representada em algumas religiões afro-brasileiras através do arquétipo de Exú.

Lendo com os ouvidos: oralitura e memória na literatura angolana

Bruno Nascimento de Araújo

A Literatura Angolana de língua portuguesa pós-colonial, que comporta nexos fortes com as tradições orais africanas, atualiza o instrumento escrita conquistado, e aplica a esse novo-velho instrumento procedimentos característicos da oralidade, como ‘os gestos’, ‘os sons’, ‘ as danças’. Examina-se a partir da leitura-escritura do angolano Manuel Rui, a captura de insinuações e incitações da fala à escrita como mecanismo de legitimação das estórias angolanas. Os processos de (re)configuração da identidade estão à frente desse mecanismo e se conduzem para escrita, difundindo as vozes presentes na milenar arte da oralidade.

Atlas Lingüístico do Brasil: TER com sentido existencial

Camila Alves Gusmão

O presente trabalho examina as ocorrências dos verbos TER e HAVER , com sentido existencial, e do verbo EXISTIR nos inquéritos do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). Para a análise dos dados , parte-se do estudo das ocorrências registradas em três capitais do Nordeste — Aracaju, Maceió e Recife. Em cada capital, são examinados dados de oito informantes, assim caracterizados: dois homens e duas mulheres de escolaridade fundamental e dois homens e duas mulheres com nível universitário, distribuídos eqüitativamente em duas faixas etárias. Nessa amostra, contemplam-se dados colhidos em respostas concedidas pelos informantes em todo o corpo do questionário, e não apenas referentes à pergunta específica do Questionário Morfossintático, analisando-se as ocorrências dos verbos TER, EXISTIR e HAVER e observando-se as tendências apresentadas pelos falantes. O exame dos dados aponta para uma preferência de uso do verbo TER com sentido existencial, em substituição aos verbos HAVER e EXISTIR , exibindo o caminho da variação lingüística e um possível direcionamento da mudança lingüística. Espera-se com esse estudo verificar a extensão dos usos dos verbos em questão e a sua distribuição não só diatópica, como também diastrática, diageracional e diagenérica, identificando os caminhos da variação e das mudanças lingüísticas.

Estudos sobre o verbo “pegar”: uma abordagem sociofuncional

Rebeca Cerqueira Andrade de Alcântara

Este trabalho tem por proposta verificar os graus de transitividade nos contextos de uso com o verbo pegar e analisar os usos mais gramaticalizados/discursivizados, como as construções com verbos seriais e casos em que há estruturas mono-argumentais, partindo-se da hipótese de que os usos mais abstratos relacionam-se com a transitividade, o aspecto e o argumento. A abordagem lingüística utilizada para a fundamentação teórica baseia-se no funcionalismo norte-americano, na linha da gramaticalização. A metodologia aplicada utiliza-se da Sociolingüística laboviana para análise dos corpora do séc. XX, PEPP/SSA/90 e NURC/SSA/70 e 90 e na proposta de Hopper e Thompson (1980) que apresentam dez traços de transitividade, que são: número de participantes, cinese, aspecto, punctualidade, polaridade, modalidade, agentividade do sujeito, volição/ intencionalidade/ controle, individuação e afetamento do objeto. Dados já analisados mostraram que os graus de transitividade variam de sentença para sentença e que há traços de transitividade em toda e qualquer sentença, mesmo naquelas chamadas, pela tradição gramatical, de intransitivas, pois a transitividade dá-se no contexto e não centrada no verbo.

O passado do passado: o pretérito mais-que-perfeito nos séculos XVII e XVIII

Joalêde Gonçalves Bandeira

Esta pesquisa traz como objetivo analisar e descrever as funções e valores desempenhados pelo pretérito mais-que-perfeito em suas formas simples e composta, comparando o seu emprego nos séculos XVII e XVIII. Tomou-se como corpus para o século XVII, textos do Padre Antonio Vieira: as cartas da Bahia (1651-1697) e os Sermões da Sexagésima e do Bom Ladrão, ambos escritos no ano de 1655 (estudo já realizado anteriormente); para o século XVIII, as Cartas Baianas Setecentistas, escritas por comerciantes portugueses e brasileiros, no período de 1763 a 1799. Ciente de que nos textos analisados do século XVII, o emprego das formas simples e composta ainda não obedecia a critérios específicos sendo empregadas indistintamente a forma do mais-que-perfeito simples em textos mais ou menos formais, parte-se da hipótese de que no século XVIII, o uso do tempo composto começa a se consolidar. A análise toma por base os pressupostos teóricos do Funcionalismo que se caracteriza pela concepção da língua como um instrumento de comunicação, maleável à satisfação das necessidades comunicativas do falante, no sentido de detectar, se possível, fatores que determinem o emprego de uma ou outra forma verbal.

Os usos dos artigos definidos e indefinidos no sermão da Sexagésima, século XVII

Alex Batista Lins

O presente trabalho aborda a análise dos usos dos artigos definidos e indefinidos no sermão da sexagésima, de padre Antonio Vieira, século xvii, sob uma perspectiva funcionalista, na linha da gramaticalização. O objetivo é de identificar os possíveis usos referenciais dos artigos, partindo da discussão do tratamento dado pela gramática normativa quanto às estruturas sintáticas encetadas pelos determinantes em português. A análise dos dados fundamenta-se nos processos de referenciação textual e nas disposições teóricas funcionalistas, a partir das contribuições de Castilho (2006), Neves (2006), Marcuschi (2003), Apothéloz e Chanet (2003), Halliday e Hasan (1978), Weinrich (1971), Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991). Inicialmente, foi realizado o levantamento dos índices quantitativos e qualitativos dos artigos, levando-se em conta suas ocorrências no corpus. Em seguida, esses elementos foram classificados segundo a posição e a função que exercem nos enunciados sob análise. Os resultados parciais comprovam que, já no século xvii, além das funções conhecidas e prescritas pela gramática normativa, os artigos funcionavam enquanto elementos referenciadores. Essas considerações, embora preliminares, podem permitir uma melhor compreensão do possível percurso de gramaticalização desses elementos.

Metapoemas: literatura negra nos textos de Luiz Silva – Cuti, Edmilson Pereira e Oliveira Silveira

Simone de Jesus Santos

Em face da polêmica em torno do assunto ou simplesmente da denominação Literatura Negra, o trabalho tem como objetivo discutir, a partir dos textos literários metalingüísticos qual (is) possível (is) leitura (s) podemos realizar dos modos como os escritores afro - brasileiros entendem a sua própria produção, já que a sua escrita é tida pela crítica literária e cultural como diferenciada. Enriquecer os debates sobre a produção literária afro-brasileira possibilita um fortalecimento da mesma pelo fato de colocarmos no centro da discussão uma escrita que embora invisibilizada, institui uma outra tradição que visa a uma positiva representação do afro- descendente. Foram investigados os textos dos escritores afro-brasileiros Luiz Silva-Cuti, Edmilson Pereira e Oliveira Silveira. Foi possível concluir que apesar das particularidades presentes nos textos de cada escritor, a Literatura Negra pode ser lida, nos textos dos três escritores, como um instrumento de transformação da visão estereotipada do afro-descendente. Em relação às distinções entre os escritores, observa-- se que Cuti discute muito a dificuldade de publicação da Literatura Negra, enquanto Edmilson dá um destaque à cultura popular dos afro-brasileiros e Oliveira Silveira traz uma constante de releitura de fatos históricos como elemento de constituição identitária.

Vozes femininas negras: Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo

Francineide Santos Palmeira

O projeto Vozes femininas negras – Maria Firmina dos Reis, Carolina de Jesus e Conceição Evaristo – objetivou averiguar, por meio da apreciação das obras: ÚRSULA, de Firmina dos Reis, DIÁRIO DE BITITA, de Carolina de Jesus, e BECOS DA MEMÓRIA, de Evaristo, em que medida os discursos dessas autoras assemelham-se e diferenciam-se no que tange as questões étnico-raciais/gênero. A leitura/análise desses textos permitiram-nos realizar um cotejo entre vozes afro-descendentes pertencentes a momentos históricos distintos, o que naturalmente evidenciou semelhanças e diferenças. De um lado, as autoras fazem parte de um grupo de escritoras negras que apresentam um contra-discurso em suas produções literárias questionando/rasurando uma tradição literária que representa a afro-descendência/afro-descendentes a partir de imagens negativas/depreciativas Por outro lado, as escritoras retratam fases distintas da história afro-descendente: em ÚRSULA, os negros vivenciam a escravidão; DIÁRIO DE BITITA, delineia estratégias de escravização do século XX, tais como o cotidiano das empregadas domésticas; BECOS DA MEMÓRIA enfoca a reconfiguração da situação escravista por meio da moradia- favela/senzala. Em relação à questão de gênero, as obras se diferenciam visto que Firmina prioriza o contexto das mulheres brancas abastardas; ao passo que Carolina de Jesus e Evaristo retratam a questão entre a população pobre e negra.

Formas de tecer e de viver: um estudo das comunidades remanescentes de quilombos.

Daniele dos Santos Lima

O presente trabalho refere-se às manifestações culturais encontradas em comunidades remanescentes de quilombos em municípios da Chapada Diamantina (Seabra, Boninal e Piatã). Essas manifestações estão muito presentes no contexto dessa população e se constituem elementos de identificação e propagação de cultura. A exemplo disso, temos: O beiju da tapioca, dança realizada por mulheres, encontrada na região de Seabra; a Gabiroba, ritual de casamento feito pelos remanescentes para o casamento do último filho, encontrado em Boninal; os Ternos de Reis, tradição portuguesa recriada e adaptada ao novo contexto, evidenciando a fé que tem esse povo, devido, principalmente as promessas e graças alcançadas; além das entrevistas e relatos pessoais, que recordam histórias de antepassados, remontam às origens e caracterizam a comunidade. Esse trabalho é uma tentativa de perceber, através desses elementos, a forma como essa comunidade tece a sua vida.

O terno de Reis em comunidades quilombolas da Bahia

Breno Souza Ramos

O trabalho se concentra na análise das cantigas de Ternos de Reis registrados em comunidades quilombolas de três municípios da Chapada Diamantina (Seabra, Boninal e Piatã), estudando suas tipologias rítmicas e seus funcionamentos culturais. O objetivo desse trabalho é mostrar as contribuições e influências dessas comunidades no contexto cultural baiano. O Terno de Reis faz parte da tradição religiosa e popular de origem ibérica. É um tipo de folguedo que reproduz idealmente a viagem dos três Reis Magos a Belém, realizado entre o Natal e a festa de Reis. Embora a festa dos três Reis Magos tivesse vindo de uma tradição ibérica, as 19 cantigas de reis recolhidas nessas comunidades quilombolas apresentam diversidades tipológicas, como a chula e o coco, nas suas composições, por conta das recriações populares e profanas aderidas pelos Mestres de Reis brasileiros ao longo do tempo. Verificou-se também que, nessas cantigas de reis, há o uso de estratégias rítmicas tradicionais da poesia popular e cantada (paralelismos, refrões) encontradas também nas cantigas de amigo dos trovadores galego-portugueses.

Intelectuais negras: vozes desveladas sobre afro-descendência

Ana Rita Santiago da Silva

Este Projeto de Pesquisa advém da necessidade e urgência de realizar pesquisas capazes de possibilitar um estudo criterioso sobre a trajetória e produção literária de escritoras negras baianas, no que se refere aos discursos sobre a identidade afro-brasileira. É nesse tocante que interessa analisar as suas auto-representações acerca da afro-descendência, a partir de suas ressignificações, compreendendo que a identidade afro-brasileira não é fixa e singular, ao contrário é mutável e plural. Tem como objetivos analisar como as obras literárias de escritoras negras baianas, a partir da década de 70, possibilitam uma construção afirmativa de identidades afro-descendentes; fazer um levantamento de suas trajetórias e obras literárias; compreender que interpretações fazem de si mesmas, de suas afro-descendências e de seus percursos; através da suas obras, produzir ensaios que colaborem com a implementação da lei 1069/03 e organizar uma antologia que favoreça a visibilidade de escritoras negras baianas. Através do entrecruzamento de Ciências Humanas e Sociais, constrói-se o seu referencial teórico. A entrevista às escritoras negras baianas será um dos caminhos propostos a ser utilizado na realização deste Projeto, associado aos outros procedimentos metodológicos, tais como uma catalogação de autoras negras baianas contemporâneas e de suas obras e uma a análise crítica dessas.

O apagamento dos nomes indígenas e africanos na antroponímia baiana

Sônia Cristina Martins Ferreira

Os contatos entre europeus, índios e africanos determinaram a estrutura do léxico do português brasileiro. Este trabalho objetiva um estudo sistemático sobre a constituição da história do léxico, no aspecto da antroponímia, considerando a produtividade das influências indígena e africana na tradição antroponímica baiana. Observamos, a partir da lista de nomes dos aprovados no processo seletivo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2005 que, dos 2070 nomes do corpus selecionado, analisados de A a J, ocorreram apenas doze indígenas e nenhum africano. Dos doze indígenas, apenas cinco estão dicionarizados por Nascentes(1952). Constatamos que os dois antropônimos africanos atestados por ele não constam no corpus. Dos resultados obtidos, pode-se chegar a uma conclusão inicial: indígenas e africanos foram expropriados dos seus nomes na história lingüística do Brasil.

A expressão aspectual: um confronto entre a sua realização por falantes rurais não escolarizados e por falantes urbanos escolarizados

Simone Webering Martinez de Sant’Anna

O presente trabalho confronta a expressão aspectual entre falantes analfabetos da zona rural baiana, e falantes urbanos escolarizados da região de Salvador, visando ressaltar normas lingüísticas específicas da linguagem rural, no que se refere à expressão da categoria em questão. Parte-se do estudo da língua como um instrumento de interação verbal, cuja estrutura só pode ser explicada, levando-se em conta a comunicação. Dessa forma, o tema escolhido é abordado com base na perspectiva teórica do funcionalismo, cujo objeto de estudo pode ser caracterizado como se referindo aos processos utilizados pelos falantes na construção do discurso.

TU OU VOCÊ? O tratamento do interlocutor no português do Brasil a partir de dados do projeto Atlas Lingüístico do Brasil: ALIB

Viviane Gomes de Deus

Este projeto enfoca um dos aspectos característicos das línguas neolatinas, o uso de pronomes específicos referindo-se ao interlocutor, de maneira formal e informal, atentando, principalmente, para a interferência de fatores sociais na opção do falante. O emprego difundido das formas interlocutórias observadas no Português do Brasil (PB), tu e você particularmente, questiona definições e sistematizações já postuladas sobre o seu uso. Diferente do francês, espanhol e italiano, que fazem clara distinção entre o uso informal/formal desses pronomes, nota-se, no PB, ocorrência indiscriminada de tu/você em algumas áreas. Em outras, permeiam os dois usos, com diferenças não diatópicas, mas sociais, desconhecendo-se a distribuição exata, tanto geográfica quanto diagenérica, diageracional, diastrática e diafásica. Logo, a partir da metodologia do Projeto ALiB, baseada na Teoria Variacionista Laboviana, analisar-se-á 96 inquéritos, sendo: 4 de cada sexo, distribuídos por 2 faixas etárias e 2 níveis de escolaridade, em cada uma das 12 capitais constituintes do corpus. Pretende-se, pois, descrever o quadro dos “Pronomes pessoais” utilizados na interlocução do PB, identificar os diferentes usos nas regiões Nordeste e Sul do Brasil, contribuindo para o conhecimento das diferentes realidades de que se reveste o país, visando à formulação de políticas de ensino-aprendizagem da língua materna, o português.

Tu e você no português Popular do estado da Bahia.

Luanda Almeida Figueiredo de Oliveira

Este trabalho concentra-se no estudo da variação dos pronomes pessoais de segunda pessoa do singular na função de sujeito – Tu e Você – nas comunidades rurais de Santo Antônio de Jesus e Poções. Inserido no escopo de observação do Projeto Vertentes do Português Rural do Estado da Bahia, analisou-se a variável dependente considerando variáveis lingüísticas, sociais e discursivas. Observaram-se 48 entrevistas, 12 entrevistas para cada comunidade e subdivididas em duas localidades do município, sede e rural, a fim de verificar a influência da urbanização na caracterização dialetal do fenômeno em foco. Além disso, os resultados foram comparados com o corpus do português afro-brasileiro. Os resultados revelados pelo pacote de programas VARBRUL demonstraram que num total de 1128 ocorrências, o pronome Você corresponde a 88% e o pronome Tu apenas 12% das realizações. Os fatores significativos foram: (i) referencialidade; (ii) paralelismo formal; (iii) idade; (iv) gênero; (v) tipo de interlocutor e (vi) efeito gatilho.

Breue memorial dos pecados e cousas que pertence ha cõfissã: notícia de um trabalho de edição de um documento quinhentista em andamento.

Hérvickton Israel de Oliveira Nascimento

Estudar a história da língua portuguesa, no que diz respeito às modificações sofridas ao longo dos séculos, requer todos os cuidados que um trabalho científico exige, sobretudo quando se trata dos critérios de edição adotados para o texto a ser trabalhado. No processo de elaboração de uma edição, deve-se ter em mente que a decisão de adoção de critérios editoriais recai sempre na dialética entre o público, ao qual será destinada a edição, e os objetivos do editor, que deverão estar em conformidade com as características próprias do texto, evitando-se assim o apagamento de elementos que situam a obra no tempo e no espaço. Pretende-se aqui apresentar notícia sobre o processo de edição do “Breue memorial dos pecados e cousas que pertence ha cõfissã”, obra de Garcia de Resende publicada em 1521, depositada na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal. A pesquisa se realiza no âmbito do Grupo PROHPOR (Programa para a História da Língua Portuguesa) da Universidade Federal da Bahia, cujos interesses se inserem no Projeto BIT-PROHPOR (Banco Informatizado de Textos) e no Projeto DEPARC (Dicionário Etimológico do Português Arcaico).

A mão que prepara o alimento não é a mão que redige o documento

Nilzete da Silva Rocha

Os livros de receitas fazem parte de uma tradição discursiva bastante antiga. Segundo Strong (2004), desde muito cedo, a troca de receitas fez parte dos hábitos da vida em sociedade. As receitas culinárias, que foram a princípio transmitidas informalmente, através das gerações, fazendo parte da herança familiar, ou compartilhadas por interesses afins, foram compiladas em livros manuscritos – como o atesta, por exemplo, o Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria I – e, com o advento da imprensa, tornaram-se um filão editorial. Os autores dos primeiros livros impressos de receitas eram, em realidade, compiladores das receitas de antigos livros que já existiam em manuscrito. O objetivo deste trabalho é apresentar os dados recolhidos do livro Arte de cozinha, manual de receitas, do século XVII, de Domingos Rodrigues, que confirmam a sua caracterização como compilador, contrariando a informação de que a maior parte das receitas ali contidas foi, por ele, inventada graças à sua habilidade. Pretende-se com esse estudo separar as distintas estruturas lingüísticas existentes nesse manual de cozinha, bem como observar o comportamento da sintaxe dos clíticos em cada uma dessas estruturas.

Os ex-votos: mais uma fonte para a história do nosso “latim vulgar”

Klebson Oliveira

Durante o Brasil colonial e pós-colonial, era comum, para a resolução de dificuldades das mais variadas, sobretudo em situações limites, a recorrência aos santos milagrosos. Conseguido o milagre, pagava-se aos oragos através de ex-votos, que significa, literalmente, o cumprimento de uma promessa. Os ex-votos podem se revestir de maneiras várias: cartas, fotografias, peças de gesso representando partes do corpo, entre outras, porém os que interessam para a presente comunicação já não são mais usuais nos tempos que correm: trata-se das tábuas votivas, em que, no mesmo espaço, no mesmo endereço, se conjugam imagem e texto. Tratando-se de uma manifestação tipicamente popular, o estudo dessas fontes, do século XVIII ao XX, podem render proveitosas contribuições para diversas áreas do saber. Ocorre, no entanto, que o foco da apresentação será um estudo sobre a linguagem contida nesse tipo de manifestação religiosa e o proveito imediato do que se fará vai para o estudo do português brasileiro em perspectiva histórica. Quanto ao fenômeno lingüístico que se analisará: os traços fônicos que, da fala, se transpuseram para a escrita.

"Escolarização, letramento e escrita na Bahia da primeira metade do século XX"

Ana Sartori

O presente trabalho se propôs a uma análise lingüística de dezoito documentos pessoais, apresentados em edições semidiplomática e fac-similar, escritos na primeira metade do século XX, tendo como tema principal o namoro, o noivado e o casamento de dois baianos. A análise lingüística foi realizada tendo como base comparativa estudos de documentos do final do século XIX, presentes no livro A norma brasileira em construção: fatos lingüísticos em cartas pessoais do século 19 (2005). Tal análise se encontra subdividida em três partes: 1) a grafia etimologizante e a forma do gerúndio; 2) a 2ª e a 3ª pessoas nas formas pronominais e na flexão verbal; e 3) as estruturas de futuridade. Os resultados encontrados nas cartas dos jovens revelam que estes eram falantes de um português culto. Ainda assim, o rapaz demonstrava um grau mais elevado de cultura erudita, fato que se justifica pela sócio-história da língua, já que as mulheres possuíam um menor acesso à escolarização do que os homens. Essa diferença de grau de escolarização e também de letramento entre a escrita de homens e mulheres havia sido notada, de forma mais acentuada, pelos autores de A norma brasileira em construção, em cartas do século XIX.

Tecnologias da resistência no Brasil: do bárbaro tecnizado à formação do corpo do ciborgue.

Suzane Lima Costa

Este trabalho pretende discutir como as imagens de um Brasil high-tech vêm sendo redesenhadas performaticamente em narrativas de ficção científica. Utilizaremos a imagem do ciborgue brasileiro, presente nas obras Santa Clara Poltergeist, Matacão: uma lenda tropical e O fruto maduro da civilização, como uma metáfora operatória para pensar as tensões emergentes a partir da simbiose homem/máquina no denominado “Terceiro Mundo”. Por fim, demonstraremos como, através da invenção e do artifício, esses textos nos ajudam a reelaborar um lugar teórico de desconstrução dos discursos hegemônicos que legislam sobre as produções culturais e simbólicas da “periferia”.

Outra margem modernista

Mônica de Menezes Santos

A maioria dos estudos sobre o modernismo brasileiro refere-se ao que ocorreu na época, no âmbito da arte e da cultura, no Sul do país, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. São estes, portanto, os centros difusores do movimento. E como se deu a modernidade estética em outras margens do país? A comunicação tentará enfocar o modernismo na Bahia, levando em consideração o que Wander Melo Miranda chamou, em “Linhas de um projeto”, publicado no livro Modernidades tardias, de “experiências periféricas da modernidade”. Para tanto, buscar-se-á analisar como se caracterizou o modernismo baiano, quais as suas peculiaridades em relação ao movimento no Sul do país, às suas formas de expressão, aos seus principais grupos. Procura-se, assim, definir, ainda que provisoriamente, um programa alternativo de modernidade desenhado nos trópicos baianos.

Entre o nome próprio e a identidade infinita: a tensão nas aventuras paradoxais de Alice e Riobaldo

Marisa Áurea de Sá Falcão

A proposta desta pesquisa consiste num mapeamento das posturas do personagem Riobaldo, narrador-protagonista do romance Grande sertão: veredas, no que se refere às oscilações entre a sua tentativa e desejos de estabelecer o nome próprio e a sua adesão a uma travessia fluida, na qual a dupla direção dos paradoxos faz emergir a identidade infinita. Essa travessia fluida, incerta e marcadamente paradoxal impulsiona Riobaldo para o processo de desconstrução de seu nome próprio, ou seja, a desconstrução do lugar das identidades e conceitos fixos, promovendo assim as suas experiências de identidade infinita. Com o intuito de melhor refletir sobre o processo de desconstrução e as implicações provenientes desse oscilar entre nome próprio e identidade infinita, aproximamos as aventuras de dois protagonistas que vivenciam tal tensão – Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, e Alice, personagem de Lewis Carroll. Pensar a desconstrução a partir de personagens que oscilam tem grande importância como chave de leitura para a compreensão dos conflitos do sujeito contemporâneo em suas elaborações de criação e morte.

Riobaldo e Aschenbach: audazes navegantes: experiência de travessia em Grande Sertão: Veredas e a morte em Veneza

Maria Aurinívea Sousa de Assis

Tenciona-se analisar o diálogo existente entre Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa e A Morte em Veneza de Thomas Mann, na perspectiva dos estudos comparados, percebendo as especificidades das representações literárias e culturais na tessitura poética de cada um dos autores. A comparação será realizada tomando como foco as experiências de travessia vivida pelos protagonistas nas narrativas citadas. Há trabalhos que ressaltam intertextualidades entre os discursos de Rosa e Mann, como é o caso do estudo de Schwarz (1981) sobre o tema do drama faústico nas obras Grande sertão: veredas e Dr. Fausto e a referência que Galvão (1978) faz sobre proximidades entre O Eleito e o conto "A hora e vez de Augusto Matraga". Evidências mostram o diálogo existente entre Rosa e a cultura alemã como, por exemplo, o diálogo de Rosa com Lorenz (1991). Também, destaca-se a relação de Mann com a cultura brasileira, desenvolvida por Miskolci (2003) em Thomas Mann, o artista mestiço. O presente estudo comparado justifica-se por visar contribuir com os estudos no país sobre os dois autores e por trazer uma inovação ao propor algo ainda não realizado: a aproximação entre Grande sertão: veredas e A Morte em Veneza.

Diálogos interculturais: Graciliano Ramos tradutor/traduzido

Ana Maria Bicalho

Este trabalho se insere nos Estudos de Tradução e propõe-se a investigar o processo de (re)criação de Graciliano Ramos autor traduzido e tradutor. Durante a dissertação de mestrado analisou-se Graciliano Ramos como tradutor e foram encontradas características de seu trabalho como autor. A presente pesquisa, ainda em fase inicial, pretende analisar as estratégias de importação responsáveis pela escolha de três romances de Graciliano Ramos – ‘Angústia’, ‘São Bernardo’ e ‘Vidas Secas’ – traduzidos para o francês, estabelecendo o lugar que ocupavam nos sistemas literários brasileiro e francês, no momento em que foram escritos e traduzidos, identificando as soluções encontradas pelos tradutores franceses para a tradução de determinados elementos que fazem parte do sistema cultural-literário brasileiro/nordestino. Essa comparação nos permitirá um estudo comparativo em torno dos estilos de Camus e de Graciliano Ramos, observando técnica e estética, além das marcas presentes tanto no texto traduzido pelo escritor brasileiro, como no seu romance, identificando-as na tradução do seu texto para o francês. A base teórica adotada é a Teoria do Polissistemas desenvolvida por Itamar Even-Zohar e os fundamentos dos Estudos Descritivos de Tradução que têm como principais representantes Gideon Toury, André Lefevere.

Orientadora: Prof. Dra. Elizabeth Ramos

Mimese e criação em Orlan

Anna Amélia de Faria

A arte ocidental como representação do real, numa perspectiva aristotélica, foi ganhando autonomia ao longo dos tempos. As produções artísticas deixaram de estar exclusivamente pré-determinadas a serem suporte fiel dos fenômenos consensualmente perceptivos. Na história da representação, o labor artístico passou, segundo Foucault, a despregar-se dessa correlação, iniciada na antiguidade. A compreensão das coisas, utilizando a noção de similitude, que via o mundo como um imenso espelho, deixará de ser o operador de entendimento; com isso, ficção e arbitrariedade ganharão espaço, e as criações configurar-se-ão enquanto um poderoso elemento questionador da realidade, vista como condição determinada por agenciamentos históricos devidamente hierarquizados. Pretendo, nesta exposição, manter-me na pista dos estudos foucaultianos que desmontam os arranjos pretensamente inatos, e considerar os ícones de beleza, as possibilidades do corpo e as naturalizações da imagem da mulher, como elementos expostos e postos em questão através dos trabalhos performáticos da artista francesa Orlan, que utiliza o próprio corpo, dialogando com movimentos artísticos e feministas, desde os anos sessenta. Assim, ela contribui para mostrar que o belo, o padrão físico e as possibilidades do corpo são mais plásticos e porosos do que, costumeiramente, imaginamos.

Formas verbais como recursos sinalizadores de indeterminação do agente em textos escritos dos séculos XIX e XX.

Maria da Conceição Hélio Silva

O estudo de sintaxe que nos propomos realizar, a partir do século XIX até o XX, à luz das teorias sócio-funcionalistas, respalda-se em textos escritos, cartas e atas, desses séculos, e considera o que diz Tarallo (1996) que mudanças importantes ocorreram no português brasileiro no final do século XIX, estabelecendo uma nova gramática distinta da de Portugal. Pretendemos, portanto, investigar nos nossos corpora as formas verbais como recursos sinalizadores de indeterminação do agente, por compreendermos que essas formas não são suficientemente consideradas pelas gramáticas tradicionais (GTs), nem pelos trabalhos sobre indeterminação. Seria o tratamento dado a essa questão pelas GTs resultado do equívoco entre as funções de sujeito e agente? Que outras formas verbais se estabeleceram no português brasileiro entre os séculos XIX e XX? As formas verbais para sinalizar a indeterminação do agente empregadas no século XX são as mesmas empregadas no século XIX? E no português europeu? Como essas formas verbais se manifestam nos gêneros textuais analisados? Haveria indícios de gramaticalização? Essas e outras questões nos despertaram o interesse em verificar como ocorreu esse fato nos dois séculos e que fatores lingüísticos e não lingüísticos contribuíram para o uso dessas formas verbais como recursos sinalizadores de indeterminação do agente.

A indeterminação do sujeito em comunidades rurais afro-brasileiras

Vanessa Ponte de Freitas

De acordo com a metodologia da Sociolingüística Variacionista e apoiando-se na teoria da transmissão lingüística irregular (Lucchesi, 2003), realizou-se uma análise focada na indeterminação do sujeito, tendo como variável dependente as estratégias de indeterminação, e como variáveis explanatórias: o nível de referencialidade do agente, inclusão do falante no discurso, comunidade, sexo, faixa etária e escolaridade do informante e estada fora da comunidade por mais de seis meses. A base empírica desta análise é fornecida por 24 entrevistas, com falantes de duas comunidades rurais afro-brasileiras isoladas do interior do Estado da Bahia. A análise quantitativa dos dados revelou que três fatores - a alta versatilidade da categoria vazia, o alto índice de realização de pronomes lexicais e a baixa ocorrência da partícula indeterminadora se no dialeto rural afro-brasileiro - apontam para a perda da morfologia gramatical do português e contribuem com a idéia de que esta língua sofreu processos semelhantes aos verificados nas situações de contatos entre línguas. Este trabalho apresenta os resultados parciais da dissertação intitulada A Indeterminação do Sujeito no Português Rural do Estado da Bahia, a ser defendida no próximo ano.

Apagamento do clítico se indeterminador e processo de integração de cláusulas

Regina Lúcia Coelho Lopes Bittencourt

O presente trabalho analisa a relação entre o apagamento do clítico se indeterminador e processo de integração de cláusulas em atas da Sociedade Protetora dos Desvalidos redigidas por negros africanos e brasileiros no século XIX. Um dos fatores que incidem no processo de integração de cláusulas é a dessentencialização e uma das suas características é a perda ou não realização do sujeito da subordinada. Uma vez que o clítico se indeterminador é um elemento que representa o sujeito, este trabalho busca analisar a relevância do apagamento deste clítico no processo de integração, sob a ótica da abordagem funcionalista, que associa este processo à gramaticalização. Observou-se no corpus uma seqüência para a qual se pressupõe que haja processo de integração de cláusulas em estruturas encaixadas como complemento de verbo causativo. Analisando as estruturas encontradas com base nas propostas de Lehmann e de Givón (1990 apud Gorski, 2001, p.163) e nos quatro princípios propostos por este último, para estabelecer o grau de integração de cláusulas, observamos que a elipse de alguns elementos como do clítico se indeterminador e de conectores e a conseqüente perda do tempo verbal favoreceram a uma maior integração entre as cláusulas.

Esboço de uma teoria argumentativa da progressão textual

Marcos Bispo dos Santos

A progressão textual é definida pela Lingüística Textual como resultado de um conjunto de procedimentos lingüísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-discursivas. O texto, por sua vez, é entendido como uma estrutura determinativa cujas partes são interdependentes, sendo cada uma necessária para a compreensão das demais. Partindo do pressuposto de que o texto é produto de práticas sócio-discursivas entre sujeitos historicamente situados e que, portanto, os aspectos lingüísticos constituem apenas uma parte da complexa atividade de produção textual no interior dessas práticas discursivas, esta comunicação apresenta o esboço de uma teoria da argumentativa da progressão textual. Dentre os mecanismos de progressão aventados pela Lingüística Textual, destacar-se-á a progressão temática pela articulação tema-rema. Objetiva-se, com esse estudo, ampliar as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer subsídios para o ensino de produção de textos.